noiva cadáver
Foto: Karla Rúbia
Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.
Nelson Magalhães Filho
Nelson Magalhães Filho
quarta-feira, 21 de julho de 2010
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
sábado, 20 de junho de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS 2008, acrílica s/tela, 70X70 cm
RAPOSEIRA
Recebi visitação de um casal de amásios que existiu outrora, o sr. D. e sua sra. Marcis. Fomos até à última divisão da casa para contar-lhes daquilo, o que, assim aconteceu, não dói. Começamos nuns recortes com vários números pretos, inquebrantáveis. Um, três, vinte e dois, em cima, em baixo, chamuscos aleatórios, inferno, céu (jogo de macaco como diria Cortázar). Tomamos chá de jasmim, ou recenderíamos logo num labirinto, ou estranharia a sra. Marcis a primeira golfada verde na parede. Depois de algum tempo fiquei numa bizarria sozinho com a sra. Marcis porque o sr. D. gracejou de partir para a sala principal estar presente seu programa predileto no canal 7 e. Quando ele foi-se reparem: forcei meus olhos mesmo contra eles e uma forjada expressão de transe (probabilidade de perigo) se apresentou de mim e nos acabamos de tantos risos arriscados. Cintilamos rinólofos no telhado, requentamos pedaços de miolo de pão, bolachas de coco, um labirinto... Demos mais risadas cômicas sarcásticas ou mesmo outras de profunda melancolia e continuamos e a sra. Marcis mostrava-me frequentemente um embrulhinho e num ar de apreensão intensa dizia-me que ali continha um outro, o que, assim aconteceu, não dói. Lá fora os astuciosos reflexos, ônibus doloridos rolando ladeiras, os velhos edifícios da Carlos Gomes, benjoins, orquídeas. As pessoas perderam a cor... nesta vertedoura cidade baixa fonte de outras vertigens que perturba a razão dos seres madrugados bebedouros de luzes, alumãs, crepusculeiadores e quando. Sra. Marcis já estava abrindo o pacotinho seu marido interrompia dizendo palavras que até hoje não lembro e sendo sempre: sra. Marcis chegava mais perto de meus olhos lilases e de minha boca e quando aí sua língua buscava meus dentes amarelecidos de mariposas e ainda quando o embrulhinho azul estava quase que aberto (e mais ainda: quando íamos comer juntos o um outro, o que) chegava miseravelmente o pedante Sr. D. que falava algo e saía rindo com três caixas de sapatos penduradas nas costas, lentidão nos pés devaneados, vaguear jardins e sinfonias, a dança das coxas, o muco de um veio das velhas árvores do Campo Grande. E meu coração ausente adormecia no musgo, nas chuvas, nas inflamadas vagas daquele olhar que por mim passava (tinha um circo na rua da Jerema e uma lua de lata, tinha bares imundos). Um carinho visceral em teus pelos, e tua boca que ardia esquivando céus estilhaçados, algum passarinho enlouquecido por luminárias galgando sonhos farejando outras mortes menores, fervilhando gumes de venenos, afiação, paisagens, igrejas, fábricas, um cálice de chuva qualquer. E então tudo de novo se repetindo com meus olhos lilases, minha boca e a língua dela nos meus dentes amarelecidos por mariposas e ainda o embrulhinho azul até que... Tantos olhos no antro das desatadas noites vazias no desespero, tantas vezes no jardireja, nas paredes meus desenhos em papel jornal, adornos e nus em pastéis coloridíssimos, truculentos, cordas de aço. Gritos insaciáveis entre cachorros, galos/gatos mágicos que morrem ao correr, estravagante ânsia, se no fundo, com certeza, fossem coisas vivas. Sra. Marcis, ah! vendavais de luzes atiradas na crueza do dia, desencravando a flor da vida, misteriosa, sarando alegrias incontidas, majolicamente requintada. Raposeira (consolo de quem deita ao sol brando, inebriamento). Sra. Marcis, lábios labaredas de jardins, partidas, quintais, passarinho desentranhado lembra alucinação e orvalho, asa de borboleta no ouvido esquerdo, alimentos, sim, ainda existe salvação. Sonho sangue para viver, frio nos pés descalços como se a lua de lata se encravasse de minhas sujas unhas, mesmo dados sobre coisas imaginárias, mesmo retorcidos reflexos, até que chegasse o assassino de mentes que era e sempre foi o sr. D. que disse estar puto comigo, ecoou, um rugido, porra, o que, assim aconteceu, não dói, até que então, finalmente, sinistramente a sra. Marcis abrisse o esperado e de dentro dele surgisse.
Nelson Magalhães Filho, 1981
domingo, 21 de dezembro de 2008
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
CORAÇÃO DESERTO
Companhia dos Anjos Baldios apresenta
Carlos Osvaldo Ferreira ( o Badinho) em
CORAÇÃO DESERTO
Um vídeo de Luciano Fraga e Nelson Magalhães Filho
Um homem em crise passa uma noite embaixo de uma ponte esperando um trem para seus sonhos.
Baseado no poema de Luciano Fraga
Música original e interpretação: Marcão
Duração: 4:55 min
Cruz das Almas, Ba. - 2006
Direção e imagens: Nelson Magalhães Filho
Companhia dos Anjos Baldios apresenta
Carlos Osvaldo Ferreira ( o Badinho) em
CORAÇÃO DESERTO
Um vídeo de Luciano Fraga e Nelson Magalhães Filho
Um homem em crise passa uma noite embaixo de uma ponte esperando um trem para seus sonhos.
Baseado no poema de Luciano Fraga
Música original e interpretação: Marcão
Duração: 4:55 min
Cruz das Almas, Ba. - 2006
Direção e imagens: Nelson Magalhães Filho
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
lua negra diabólica da minha janela
roça tua pele insólita
de areia lambuzada tão soturna
com os morcegos
alheando-se de meu quarto
as feridas já são dentes crivados no corpo
vejo gente navegando na cinzeza
das ruas- gengivas rasgando a língua
língua colada boca-a-boca
as pessoas tão ocultas
em meu corpo lodoso das esperas roídas
lua negra diabólica da minha janela
roça tua pele insólita
não quero morder tua
boca queimando as neblinas
da vaguidão.
Nelson Magalhães filho
Marina tinha vinte anos...
Marina tinha vinte anos
e estava apaixonada
Seu passatempo predileto
era despir-se em frente
ao espelho
do seu quarto
Principalmente às sextas-feiras
quando seu amor
chegava de viagem
e ia visitá-la
Sedento
ele não demorava
a buliná-la
Pingos de chuva
batiam forte em sua janela
de vidro
Usando um vestido longo
e sem calcinhas
Ela encachava-se
de frente
sobre seu colo
Seus pelos pubianos
roçavam
suas coxas
"Chupa vai!", ela disse
Sua buceta com corte
à la Charles Chaplin
era como ele gostava...
Marina gemia
aos seus toques
frenéticos
Não demorou a penetrá-la
"Mete, mete..."
Ela era insaciável
"Você gosta da minha bucetinha, hein?"
"Adoro!"
"É sua"
"Sei..."
O telefone toca
ele atende
era sua ex-mulher
gritando, disse:
"Você já pagou a escola dos meninos?
a irmã tá me cobrando direto!"
Desligou
"Caralho!"
Não acreditava no que acontecia...
"O que foi meu amor?"
"Nada, nada..."
Leonard Cohen cantava
baixinho:
"i'm your man..."
A essa altura
incomodava-se
com o vinho
derramado aos seus pés.
Postado por Tarcísio Buenas
http://lavergadelbuenas.blogspot.com/
Marina tinha vinte anos
e estava apaixonada
Seu passatempo predileto
era despir-se em frente
ao espelho
do seu quarto
Principalmente às sextas-feiras
quando seu amor
chegava de viagem
e ia visitá-la
Sedento
ele não demorava
a buliná-la
Pingos de chuva
batiam forte em sua janela
de vidro
Usando um vestido longo
e sem calcinhas
Ela encachava-se
de frente
sobre seu colo
Seus pelos pubianos
roçavam
suas coxas
"Chupa vai!", ela disse
Sua buceta com corte
à la Charles Chaplin
era como ele gostava...
Marina gemia
aos seus toques
frenéticos
Não demorou a penetrá-la
"Mete, mete..."
Ela era insaciável
"Você gosta da minha bucetinha, hein?"
"Adoro!"
"É sua"
"Sei..."
O telefone toca
ele atende
era sua ex-mulher
gritando, disse:
"Você já pagou a escola dos meninos?
a irmã tá me cobrando direto!"
Desligou
"Caralho!"
Não acreditava no que acontecia...
"O que foi meu amor?"
"Nada, nada..."
Leonard Cohen cantava
baixinho:
"i'm your man..."
A essa altura
incomodava-se
com o vinho
derramado aos seus pés.
Postado por Tarcísio Buenas
http://lavergadelbuenas.blogspot.com/
sábado, 6 de dezembro de 2008
CACHORRO RABUGENTO MORTO EM NOITE CHUVOSA
Um vídeo-poema de Nelson Magalhães Filho
Com Priscila Pimentel
Direção de arte, fotografia de cena, maquiagem e figurino: Karla Rúbia
Música: Banda Inominável
Poema, imagens, edição e direção de Nelson Magalhães Filho
Duração: 5 min
Salvador -Ba- 2008
Um vídeo-poema de Nelson Magalhães Filho
Com Priscila Pimentel
Direção de arte, fotografia de cena, maquiagem e figurino: Karla Rúbia
Música: Banda Inominável
Poema, imagens, edição e direção de Nelson Magalhães Filho
Duração: 5 min
Salvador -Ba- 2008
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
SAMANTHA ABREU:Nenhum Sobrevivente é Nada
Leitura de Samantha Abreu / texto de Paulo Castro
VEJA MAIS:
http://samanthaabreu.blogspot.com/
Leitura de Samantha Abreu / texto de Paulo Castro
VEJA MAIS:
http://samanthaabreu.blogspot.com/
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS, 2004, mista s/papel craft, 100X80 cm
AVÔ
Numa noite, assoviada poeira de estrelas
meu coração vazio insistia na rua.
Vovô naquela vez não escrevia poemas
mas vadiava todo prateado pelos becos
e arrancava luzes com as unhas inquietas
das verdes paredes descascadas pela lua
(a noite inteira chamando chamando).
Às vezes nos entreolhávamos numa esquina,
eu era príncipe-felino
ele tinha asas
que rasgavam o paletó mais negro
que a flor da morte.
Sacudia os ombros meio esquisito,
ainda não dorme, dizia-me
deixe-me levá-lo para casa
ainda é uma criança
é cedo para o delírio sutil.
Seus cabelos lambidos como os de Gullar
um sapato vermelho
vovô meio dada
pendurava um brinco discreto na orelha esquerda
e na outra um vagalume
costurado com uma linha mais fina
que o silêncio.
O caminho era prisioneiro dos meus dedos magros
(frestas cheias de calos e suor).
Uma agonia
um hálito embebido de coisas noturnas,velórios
príncipe dos gatos bebendo nos bares.
Vovô sem barba, olhos pretamente abertos
nariz comprido.
Nossos corações vazios rolavam ladeiras
bebiam seixos no rio
(ontem não vi Bartira e o sapo ao luar).
Naquele tempo ao céu piscava devagarinho
nos velhos sobrados,
e capturávamos borboletas negras outras azuis
pelos postes altas horas
recitando Allen Ginsberg, Rita Lee
sem fadiga, sem dormir dias e dias,
não fazia tanto frio.
(Eu tinha mandado uma carta para Silvana).
Subíamos nos telhados
roubando o sonho que esqueciam pela manhã.
Quando chegasse em casa
ia ter legião estrangeira ou a hora da estrela,
cartilhas de comunismo...
Naquele tempo eu signo de cachorro
outra vez adormecer todo queimado.
Ontem amei Celuta, ai flor!
Cel tem cheiro de terra molhada
e assim caminha levada...
Baratas chovidas pelo chão, I. disse:
você tá sonso, meio crisântemo.
Chove pouquinho. Dragão, Bach,
tenho desenhado bastante.
Som de Caetano, muito (dentro do peito
azulado de araçás). Canto sem parar.
Carinho de vampiro em I. Se eu te queimo...
Outro sonho: tava eu e...
uma pontada de noite ameaçou minha cara,
uma noite de van Gogh
carruagem espelhada cheia de folhas de mármore
como cisco avermelhado no olho
começava a chorar...
Vovô, e vovô sumia, e eu ficava triste
aguentando as rajadas cruas das lamparinas
amarelas, também dançarinas amarelas
batiam palmas de casa em casa
passeavam com argolas nos dentes, ossos doendo.
Com uma tesoura amolada no realejo
recortei um pouco daquela águae banhei a tarântula
feito farinha num peixe teórico.
Vovô sozinho atravessava muros e jardins
muito leve flutuava perdido pela cidade
gritava meu nome, acorde, toque
curto-circuito nas redes tortas e eu chorava
chorava. Seus olhos ainda trincavam-se.
Nelson Magalhães Filho
AVÔ
Numa noite, assoviada poeira de estrelas
meu coração vazio insistia na rua.
Vovô naquela vez não escrevia poemas
mas vadiava todo prateado pelos becos
e arrancava luzes com as unhas inquietas
das verdes paredes descascadas pela lua
(a noite inteira chamando chamando).
Às vezes nos entreolhávamos numa esquina,
eu era príncipe-felino
ele tinha asas
que rasgavam o paletó mais negro
que a flor da morte.
Sacudia os ombros meio esquisito,
ainda não dorme, dizia-me
deixe-me levá-lo para casa
ainda é uma criança
é cedo para o delírio sutil.
Seus cabelos lambidos como os de Gullar
um sapato vermelho
vovô meio dada
pendurava um brinco discreto na orelha esquerda
e na outra um vagalume
costurado com uma linha mais fina
que o silêncio.
O caminho era prisioneiro dos meus dedos magros
(frestas cheias de calos e suor).
Uma agonia
um hálito embebido de coisas noturnas,velórios
príncipe dos gatos bebendo nos bares.
Vovô sem barba, olhos pretamente abertos
nariz comprido.
Nossos corações vazios rolavam ladeiras
bebiam seixos no rio
(ontem não vi Bartira e o sapo ao luar).
Naquele tempo ao céu piscava devagarinho
nos velhos sobrados,
e capturávamos borboletas negras outras azuis
pelos postes altas horas
recitando Allen Ginsberg, Rita Lee
sem fadiga, sem dormir dias e dias,
não fazia tanto frio.
(Eu tinha mandado uma carta para Silvana).
Subíamos nos telhados
roubando o sonho que esqueciam pela manhã.
Quando chegasse em casa
ia ter legião estrangeira ou a hora da estrela,
cartilhas de comunismo...
Naquele tempo eu signo de cachorro
outra vez adormecer todo queimado.
Ontem amei Celuta, ai flor!
Cel tem cheiro de terra molhada
e assim caminha levada...
Baratas chovidas pelo chão, I. disse:
você tá sonso, meio crisântemo.
Chove pouquinho. Dragão, Bach,
tenho desenhado bastante.
Som de Caetano, muito (dentro do peito
azulado de araçás). Canto sem parar.
Carinho de vampiro em I. Se eu te queimo...
Outro sonho: tava eu e...
uma pontada de noite ameaçou minha cara,
uma noite de van Gogh
carruagem espelhada cheia de folhas de mármore
como cisco avermelhado no olho
começava a chorar...
Vovô, e vovô sumia, e eu ficava triste
aguentando as rajadas cruas das lamparinas
amarelas, também dançarinas amarelas
batiam palmas de casa em casa
passeavam com argolas nos dentes, ossos doendo.
Com uma tesoura amolada no realejo
recortei um pouco daquela águae banhei a tarântula
feito farinha num peixe teórico.
Vovô sozinho atravessava muros e jardins
muito leve flutuava perdido pela cidade
gritava meu nome, acorde, toque
curto-circuito nas redes tortas e eu chorava
chorava. Seus olhos ainda trincavam-se.
Nelson Magalhães Filho
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Nelson Magalhães Filho. ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO 2008, acrílica s/tela, 80X60 cm
não sei se fui sempre corrompido
para ter afeição pelos teus olhos enluarados
pelos teus velhos poemas que falavam de felídeos
que se agasalhavam em flores noturnamente,
flores que eu sempre plasmava na esperança minguante
de ver um anjo triste me acenar com suas mãos pardas,
não sei se fui contagiado para caminhar
pelos ermos jardins
sob um canto lisonjeiro de pequenas aves astutas
que não dormitavam nem com o clamor
das estrelas pretas
perdidas entre nuvens sombrosas,
não sei do trem que corre à noite sempre te levando
para aquele tempo inculto em que eu nunca poderei estar...
Nelson Magalhães Filho
para ter afeição pelos teus olhos enluarados
pelos teus velhos poemas que falavam de felídeos
que se agasalhavam em flores noturnamente,
flores que eu sempre plasmava na esperança minguante
de ver um anjo triste me acenar com suas mãos pardas,
não sei se fui contagiado para caminhar
pelos ermos jardins
sob um canto lisonjeiro de pequenas aves astutas
que não dormitavam nem com o clamor
das estrelas pretas
perdidas entre nuvens sombrosas,
não sei do trem que corre à noite sempre te levando
para aquele tempo inculto em que eu nunca poderei estar...
Nelson Magalhães Filho
terça-feira, 9 de setembro de 2008
cavalos discorrem pela afável noite
até ficar insuportável beijá-los
- com a língua beijar cavalos -
o tempo não passa nunca
o tempo chora sangue de anjo sangue de cavalo.
ainda não sei o que tem dentro de mim
que não passa nunca e chora
sangue de cavalo sangue de anjo.
eu cambaleava pela afável noite de ontem
com a sede insuportável do beijo
vadiando pelos becos escuros da gamboa
vadiando pelas ruas estreitas
esculpidas de perturbados da gamboa.
aí eu começei o canto esganiçado
para você me ver assim: uma
muralha de dor,
uma carne tecida de flores
que vão ficando álgidas de aves marinhas.
meu amor que não conheço apenas me pasta
neste tempo perdido no mar negro
abortando cavalos e cadelas e rezando pro anjo.
vivo pastando no mar negro como peixe boi
estrela do mar negro percorro temporais selvagens
e cada vez que me perco pela afável noite de ontem
o oco de mim vai vomitando
um sentimento nostálgico de perdas
espelhos de mortos com seus ossos de medo.
Nelson Magalhães Filho
até ficar insuportável beijá-los
- com a língua beijar cavalos -
o tempo não passa nunca
o tempo chora sangue de anjo sangue de cavalo.
ainda não sei o que tem dentro de mim
que não passa nunca e chora
sangue de cavalo sangue de anjo.
eu cambaleava pela afável noite de ontem
com a sede insuportável do beijo
vadiando pelos becos escuros da gamboa
vadiando pelas ruas estreitas
esculpidas de perturbados da gamboa.
aí eu começei o canto esganiçado
para você me ver assim: uma
muralha de dor,
uma carne tecida de flores
que vão ficando álgidas de aves marinhas.
meu amor que não conheço apenas me pasta
neste tempo perdido no mar negro
abortando cavalos e cadelas e rezando pro anjo.
vivo pastando no mar negro como peixe boi
estrela do mar negro percorro temporais selvagens
e cada vez que me perco pela afável noite de ontem
o oco de mim vai vomitando
um sentimento nostálgico de perdas
espelhos de mortos com seus ossos de medo.
Nelson Magalhães Filho
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