Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

terça-feira, 22 de setembro de 2009

http://fishyartsandwords.blogspot.com/
Bar de Turíbio completa 50 anos em 29 de setembro

Geraldo Bonelli. Técnica mista sobre papel a4

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS 2009. Acrílica s/tela, 80X70 cm

sábado, 20 de junho de 2009

4 estudos para um perverso devaneio









Nelson Magalhães Filho. PERVERSO DEVANEIO, 2009. Acrílica s/ telas de 30X30 cm



nelson + grupo CORTE + banda pastel de miolos na midialouca do rio vermelho











P.D.M.: Alisson - Alex -Wilson
CORTE: Lima - Gustavo - Cazé - Katherine -Sandro
Convidados:
ELMO "Opus Incertum"
JAIR Mr. GUIMA "DECLINIUM"
SIOUX MACHADO "Jato Invisivel"
Poeta NELSON MAGALHÃES FILHO
Contista: DIOGO COSTA

30 de maio de 2009


sexta-feira, 3 de abril de 2009

Scout Niblett - Hot To Death

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

crucial viagem de ônibus
o gesto
enlouquecido do mago
ser excesso;
voltejar-bizarro
as aves sem nome
nas ervas
vaguear só
sem pétalas
sua presença fugaz, e
deslizo nas almas
dos passageiros
como um feiticeiro.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Nelson Magalhães Filho. ANJOS BALDIOS 2008, acrílica s/tela, 70X70 cm

RAPOSEIRA
Recebi visitação de um casal de amásios que existiu outrora, o sr. D. e sua sra. Marcis. Fomos até à última divisão da casa para contar-lhes daquilo, o que, assim aconteceu, não dói. Começamos nuns recortes com vários números pretos, inquebrantáveis. Um, três, vinte e dois, em cima, em baixo, chamuscos aleatórios, inferno, céu (jogo de macaco como diria Cortázar). Tomamos chá de jasmim, ou recenderíamos logo num labirinto, ou estranharia a sra. Marcis a primeira golfada verde na parede. Depois de algum tempo fiquei numa bizarria sozinho com a sra. Marcis porque o sr. D. gracejou de partir para a sala principal estar presente seu programa predileto no canal 7 e. Quando ele foi-se reparem: forcei meus olhos mesmo contra eles e uma forjada expressão de transe (probabilidade de perigo) se apresentou de mim e nos acabamos de tantos risos arriscados. Cintilamos rinólofos no telhado, requentamos pedaços de miolo de pão, bolachas de coco, um labirinto... Demos mais risadas cômicas sarcásticas ou mesmo outras de profunda melancolia e continuamos e a sra. Marcis mostrava-me frequentemente um embrulhinho e num ar de apreensão intensa dizia-me que ali continha um outro, o que, assim aconteceu, não dói. Lá fora os astuciosos reflexos, ônibus doloridos rolando ladeiras, os velhos edifícios da Carlos Gomes, benjoins, orquídeas. As pessoas perderam a cor... nesta vertedoura cidade baixa fonte de outras vertigens que perturba a razão dos seres madrugados bebedouros de luzes, alumãs, crepusculeiadores e quando. Sra. Marcis já estava abrindo o pacotinho seu marido interrompia dizendo palavras que até hoje não lembro e sendo sempre: sra. Marcis chegava mais perto de meus olhos lilases e de minha boca e quando aí sua língua buscava meus dentes amarelecidos de mariposas e ainda quando o embrulhinho azul estava quase que aberto (e mais ainda: quando íamos comer juntos o um outro, o que) chegava miseravelmente o pedante Sr. D. que falava algo e saía rindo com três caixas de sapatos penduradas nas costas, lentidão nos pés devaneados, vaguear jardins e sinfonias, a dança das coxas, o muco de um veio das velhas árvores do Campo Grande. E meu coração ausente adormecia no musgo, nas chuvas, nas inflamadas vagas daquele olhar que por mim passava (tinha um circo na rua da Jerema e uma lua de lata, tinha bares imundos). Um carinho visceral em teus pelos, e tua boca que ardia esquivando céus estilhaçados, algum passarinho enlouquecido por luminárias galgando sonhos farejando outras mortes menores, fervilhando gumes de venenos, afiação, paisagens, igrejas, fábricas, um cálice de chuva qualquer. E então tudo de novo se repetindo com meus olhos lilases, minha boca e a língua dela nos meus dentes amarelecidos por mariposas e ainda o embrulhinho azul até que... Tantos olhos no antro das desatadas noites vazias no desespero, tantas vezes no jardireja, nas paredes meus desenhos em papel jornal, adornos e nus em pastéis coloridíssimos, truculentos, cordas de aço. Gritos insaciáveis entre cachorros, galos/gatos mágicos que morrem ao correr, estravagante ânsia, se no fundo, com certeza, fossem coisas vivas. Sra. Marcis, ah! vendavais de luzes atiradas na crueza do dia, desencravando a flor da vida, misteriosa, sarando alegrias incontidas, majolicamente requintada. Raposeira (consolo de quem deita ao sol brando, inebriamento). Sra. Marcis, lábios labaredas de jardins, partidas, quintais, passarinho desentranhado lembra alucinação e orvalho, asa de borboleta no ouvido esquerdo, alimentos, sim, ainda existe salvação. Sonho sangue para viver, frio nos pés descalços como se a lua de lata se encravasse de minhas sujas unhas, mesmo dados sobre coisas imaginárias, mesmo retorcidos reflexos, até que chegasse o assassino de mentes que era e sempre foi o sr. D. que disse estar puto comigo, ecoou, um rugido, porra, o que, assim aconteceu, não dói, até que então, finalmente, sinistramente a sra. Marcis abrisse o esperado e de dentro dele surgisse.

Nelson Magalhães Filho, 1981