Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

crucial viagem de ônibus
o gesto
enlouquecido do mago
ser excesso;
voltejar-bizarro
as aves sem nome
nas ervas
vaguear só
sem pétalas
sua presença fugaz, e
deslizo nas almas
dos passageiros
como um feiticeiro.

Nelson Magalhães Filho

Um comentário:

Cadinho RoCo disse...

Passageiros de imaginação que busca de cada um deles alguém.
Cadinho RoCo