Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bride, de Ray Caeser

Lavínia
cheia de paixões e psilocibina.
Lavínia e as asas
sangrando.
Lavínia me contou que seu passatempo favorito
era se atrever a beijar teiús
e uivar perante a presença do seu cachorro
rabujento,
vestir uma camisola transparente
dormir ao relento
por os olhos nas frestas:
zurrar barbárie
sangrando.

Nelson Magalhães Filho

Um comentário:

katherine funke disse...

fiquei com umm mmmedo dessa figura... [risos]