Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

domingo, 17 de fevereiro de 2008

é foda quando esta noite desparaisa, frívolo o oco,

teus anjos de louça na penteadeira

porcos que se cevaram

medra minha fome teu corpus solus, aninha-se

um medo, em mazelas sou devorado

mijo nesta noite se pressaga: escuto rendez-vous

com Jane Birkin para amar porra nenhuma

sem mais embasbacar teu afago dama dos gatos,

esta noite a insônia embuçada até teus olhos sombrios

eu simplesmente embrenho-me em teu destormento.

Nelson Magalhães Filho

2 comentários:

Ruela disse...

caralho de poema
cada vez está melhor
parabéns

Luciano Fraga disse...

Buenas,é foda mesmo ser devorado por mazelas,realmente um poema "difuder".Maravilha para meu desmantelado retorno.