Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

terça-feira, 11 de março de 2008

Nelson Magalhães Filho. Mista s/papelão, 100X80 cm

agora desentregar-me-ia
sufocantemente às damas
das ruas fedidas-devorado
e adoecido pelas velhas luzes
que vão e que voltam, porque-vesânico:
prostituindo-me pouco a pouco
errando-me nas coxas de begônia
jorrando-me nas mães estreitas
esmago
momentaneamante esse desvario.
contra os postes e os automóveis
cintilantes por causa da lua
de monstros-latiam
porque sitar remosa:
alisas meus cabelos
ranges meus ossos
desmelancolizados
através das doutrinas secretas
de tua agudez
pré-histórica.

Nelson Magalhães Filho

Um comentário:

Luciano Fraga disse...

Buenas,latido raivoso de cão vadio,dentro do caos.