Realizar trabalhos de arte a base das experiências existenciais, como transpor as imensidões dolorosas das noites urinadas. Fingir figuras concebidas do desejo e da amargura. Instigações obscurecidas pela lua. Não acredito na pintura agradável. Há algum tempo meu trabalho é como um lugar em que não se pode viver. Uma pintura inóspita e ao mesmo tempo infectada de frinchas para deixar passar as forças e os ratos. Cada vez mais ermo, vou minando a mesma terra carregada de rastros e indícios ásperos dentro de mim, para que as imagens sejam vislumbradas não apenas como um invólucro remoto de tristezas, mas também como excrementos de nosso tempo. Voltar a ser criança ou para um hospital psiquiátrico, tanto faz se meu estômago dói. Ainda não matem os porcos. A pintura precisa estar escarpada no ponto mais afastado desse curral sinistro.

Nelson Magalhães Filho

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Nelson Magalhães Filho. Série ANJOS SOBRE O RECÔNCAVO 2008, acrílica s/tela, 80X70 cm

embalsamento de luzes congeladas
sem piedade trazem revelações terríveis onde
devoro cabeça de porco deslumbrado pelos tufões
sobre nossa memória alheada,
onde meus amigos me chamam de canalha
em especulações sombrias sobre um festim instintivo,
mas fico imune quando bebo sangue de porco obsceno
sacaneando com os assassinos.

Nelson Magalhães Filho

Um comentário:

Ruela disse...

fantástico, publica no Nova Águia ;)









Abraço.